R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Novos Contos do Sobrenatural

por vários autores

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 11.12.2002

republicada em 01.09.2003

Um volumezinho de 115 páginas, foi o que resultou da divisão em dois da antologia de contos clássicos de terror Great Tales of the Supernatural, livro do qual esta tradução é a segunda parte, tendo a primeira sido publicada na mesma colecção com o número 30 e o óbvio título Contos do Sobrenatural. A razão é evidente: fazer duas edições com o dinheiro pago pelos direitos de um único livro. Mas, neste caso, há um certo exagero. 115 páginas?!
Sobraram para Novos Contos do Sobrenatural seis contos, de cinco autores. O livro abre com A Ilha do Ud, de William Hope Hodgson (e não Hogdson como vem na capa). E abre com o melhor conto do livro, uma história de marinheiros que descobrem uma gruta habitada por um monstro terrível, guardião duma enorme quantidade de ouro. O suspense funciona, e o clima de perigo iminente e de estranheza é muito bem criado, resultando numa história de boa qualidade.
M. R. James tem duas histórias neste volume. A primeira, O Tesouro do Abade Tomás, passa-se na Alemanha, e envolve a busca por um tesouro eclesiástico, que é encontrado no fundo de um poço... protegido por um fantasma. A segunda, Aviso aos Curiosos, é muito semelhante, na medida em que também envolve uma busca a um tesouro, neste caso uma coroa, que acaba por revelar-se protegida por forças sobrenaturais. São ambas histórias banais, que seguem fielmente a fórmula dos contos de horror ingleses, com cavalheiros repletos de espírito científico a partir em busca de velhas lendas e a encontrar forças para além da compreensão de simples mortais. À semelhança dos policiais, as histórias são depois contadas à lareira, depois de tudo voltar à normalidade, em frente a uma chávena de chá e com as cabeças dos convivas envoltas no fumo de cachimbos.
A História de Willie, o Errante, de Sir Walter Scott, é melhor. A trama é construída à volta de um empréstimo, que é pago, mas cujo recibo não é passado, porque entretanto o credor morre e vai direitinho para o Inferno. Sem recibo a comprovar o pagamento da dívida, o herdeiro reclama-o, e tudo se resolve de um modo inesperado. É um conto com um enredo inteligente e cheio de ironia, pecando talvez um pouco no desenvolvimento da história.
Bram Stoker também consta do índice, com o seu inseparável personagem draculiano. Embora longe da qualidade do romance, O Hóspede de Drácula é mais uma vez uma história bem feita, em que a teimosia de um homem (o hóspede do conde) vai pô-lo em perigo numa noite nevada e cheia de lobos. O final é um paradoxo. Por um lado é supreendente, mas por outro lado é o único final possível para a história.
O livro fecha com uma pequena história de Ambrose Bierce, intitulada O Desconhecido. É mais uma história de fantasmas, desta vez ambientada nos desertos do sudoeste dos Estados Unidos, que também se lê como uma história banal, igual a centenas de outras histórias de terror lidas e vistas na televisão e no cinema.
A tradução é medíocre, como seria de esperar. E no geral, muito embora haja aqui bons contos, o volume acaba por ser fraco, e portanto dispensável. Duas estrelas.

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Novos Contos do Sobrenatural

Publicações Europa-América

Colecção Livros de Bolso, série Pêndulo, nº 50

tradução de Eduardo Saló

1992

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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