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Manifesto E-nigmático

    A ficção científica portuguesa está moribunda.
    Não que seja um estado novo. A ficção científica portuguesa sempre esteve moribunda, intercalando épocas em que ia conseguindo a duras penas levantar a cabeça do travesseiro com outros períodos em que deixava inclusive de respirar. Nunca se publicaram mais de 5 ou 6 livros portugueses de ficção científica, fantástico, horror, etc. por ano, mesmo nos melhores anos, e desde que a colecção que mais livros publicou desde os anos 80, a colecção de FC da Caminho, mudou de formato e de preço, esse número caiu ainda mais.
    Além disso, a ficção científica portuguesa nunca teve grande qualidade. A par de uma meia-dúzia, ou até menos, de bons autores, a ficção científica portuguesa foi albergando uma quantidade de gente que do género ou de literatura em geral sabia pouco ou coisa nenhuma, acabando por publicar-se aberrações tão aberrantes que noutros países de mercado mais desenvolvido nunca veriam a luz do dia. E publicaram-se essas coisas porque para manter um género eram necessários autores, e havia que manter uma quantidade mínima em actividade, assim como que uma espécie de gene pool.
    E assim surgiram livros cheios de ideias e sem literatura nenhuma.
    Surgiram livros cheios de literatura e sem ideia nenhuma.
    Surgiram livros sem ideias nem literatura. Livros sem coisa nenhuma.
    Provavelmente por isso, neste país os leitores de ficção científica portuguesa são uma espécie rara que dá sinais de extinção próxima. Provavelmente por isso, a ficção científica é objecto do desprezo aberto ou velado de quase toda a comunidade "literata". Provavelmente por isso, pouca ficção científica portuguesa se publica hoje em dia.
    Lamúrias? Não, não são lamúrias. É a realidade dos factos.
    Lamúrias seriam se o depois do diagnóstico se baixasse os braços e não se fizesse nada, embalados na doce melancolia que todos os fins comportam. Mas não é isso o que aqui se passa.
    O E-nigma pretende ser uma pedrada no charco. Pretende ser um site que disponibiliza ficção científica a preço nulo. Ficção científica, fantástico, horror com qualidade, seja literária seja nas ideias, seja na construção das histórias seja na sua originalidade. Histórias que dêem gosto ler. Textos que consigam provocar em quem não gosta de ficção científica ou das restantes vertentes do género mas chegue ao E-nigma de espírito aberto uma sensação de "Olha! Afinal isto até nem é mau!..."
    Sim, de espírito aberto. É que é preciso espírito aberto. É necessária a capacidade de compreender que os paradigmas da ficção científica e do fantástico são diferentes dos da demais literatura. Esta passa-se no mundo que todos conhecemos, aquelas criam mundos próprios, mesmo que por vezes se vejam ligados ao nosso por linhas mais ou menos hiperbólicas, mais ou menos rectas. Dessa diferença nasce uma diferença básica na maneira de estruturar as histórias e uma diferença básica no modo de as ler. O género necessita de leitores capazes de "suspender a descrença" e deixar-se ir história adiante levados pela mão do autor. A literatura de fora do género não. Basta pôr os olhos nas letras e nunca sair do "mundo real", nunca mexer com a imaginação, nunca pensar em coisas estranhas se bem que tão familiares, por vezes.
    É preciso espírito aberto. Espíritos tacanhos que cheguem ao E-nigma pré-convencidos de que não vão gostar porque se trata de ficção científica não gostarão nunca. Com esses não há nada a fazer. Mas temos esperança que haja dos outros por aí.
    O E-nigma tem o objectivo de captar novos leitores para a ficção científica e fantástico, de fidelizar leitores já existentes, de recuperar leitores desiludidos. Porque só com leitores haverá procura, e só com procura pode haver oferta. Os leitores são a base da pirâmide. Sem eles ela desaba, com eles ela mantém-se de pé e se novos leitores forem chegando, a pirâmide pode até crescer.
    Por isso tentaremos ser muito rigorosos relativamente à qualidade do que publicamos. Nem tudo o que já saiu em livro poderá ter lugar no E-nigma. Gostamos de pensar que é essa a nossa responsabilidade perante o público.
    Mas a ficção científica portuguesa não precisa só de qualidade. Precisa também de quantidade, de renovação. Noutros países essa renovação acontece, dentro do género, nos fanzines (publicações amadoras com tiragens muito reduzidas e um grupo pequeno de seguidores mais ou menos fiéis) e nas revistas. Ou seja, num mercado editorial que se centra no conto. Em Portugal não há fanzines nem revistas de ficção científica.
    Mas há a internet.
    Por isso, estamos abertos aos jovens, aos desconhecidos, às obras menores de autores de renome (que mostram a todos que ninguém nasce ensinado e que a persistência por vezes dá frutos). Para isso dividimos o E-nigma em dois: o E-nigma Pro e o E-nigma Light.
    No Light a exigência de qualidade é menor. Aí a exigência principal é o potencial, qualquer que ele seja. O potencial da história, o potencial de desenvolvimento futuro do autor, o potencial do universo que é criado em cada texto, o potencial da técnica literária, o potencial, em suma, de que um dia dali saia algo de verdadeiramente bom para a ficção científica portuguesa.
    Esperamos que gostem. Esperamos que colaborem. Esperamos que tentem, se escrevem, preparar alguma coisa para nós avaliarmos.
    Esperamos contribuir para que a Ficção Científica em Portugal tenha um futuro.

Jorge Candeias e quem mais concordar


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