R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Diaspora

por Greg Egan

uma crítica de Gonçalo Valverde

publicada em 20.11.2001

republicada em 05.08.2003

Acabei de ler o Diaspora do Greg Egan.
Nunca tendo lido nada do autor foi com alguma curiosidade que comprei este exemplar (publicado em trade paperback pela Harper Collins). Antes de mais, o estilo é claramente pesado... Hardcore SF no seu auge, com grandes dissertações sobre fisica, cosmologia, sociologia e alguma biologia à mistura, e devo confessar que acabei por me perder por diversas vezes. E quando se chega ao fim do livro, fica-se com a sensação que o seu objectivo é exactamente uma desculpa para essas dissertações... Não que a história seja muito má, mas as ideias base veiculadas não são nada de muito inovador:
A humanidade está divida em três tipos:
- Os habitantes digitais das polises, ou seja seres digitais em redes de computadores e ambientes simulados. Os habitantes tanto podem ter sido humanos que foram digitalizados (não é claro se é uma digitalização ou uma conversão), ou seres criados dentro das próprias polises;
- Os gleisners, robôs em formato humanóide, controlados por uma mente digital, semelhantes aos habitantes das polises, mas muito ligados ao seu corpo;
- E os fleshers, bons e velhos seres humanos... quer dizer, mais ou menos, porque muitos tiveram os seus aumentos biológicos.
Sim, sim, existem aqui claros ecos do Schimatrix, do trilogia Software do Rudy Rucker entre outras, mas a partir da segunda metade do livro, ele acaba por ter um alcance cósmico e até metacósmico, com os habitantes das polises (de certa forma os "heróis da história") a viajarem pelo universo e para outros universos. Acaba (na minha opinião) por se tornar um pouco ridiculo na parte final em que dois habitantes andam de universo em universo (milhões de universos) para encontrarem uma raça e o final é no minimo frustrante.
Enfim, um livro interessante, que se sua um bocado a ler por causa das dissertações, com ideias interessantes, mas a que falta uma história sólida para lhe dar um sentido. O livro vale, na minha opnião pela exploração das relações dos habitantes das polises, que achei bastante interessante, e Greg Egan explora algumas ideias sociológicas fascinantes... como seremos se formos apenas seres digitais? Como serão as nossas relações, a nossa forma de pensar e de nos relacionamos com o tempo se pudermos acelerar ou desacelar a nossa percepção do mesmo, etc? Apresenta algumas soluções interessantes, e não se limita a criar um mundo vitual em tudo igual ao nosso com algumas mudanças como muitos autores fazem, mas sim um mundo que acaba por nos ser alienigena.
Tem direito a umas 5 bolinhas (num total de 10).

Gostou deste texto? Ajude-nos a oferecer-lhe mais!

 

Diaspora

por Greg Egan

Harper Collins (Reino Unido)

1999

Críticas de Gonçalo Valverde