R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

O desenvolvimento da ficção científica e da fantasia na Bulgária

por Khristo D. Poshtakov

tradução do espanhol de Jorge Candeias

artigo publicado em 13.05.2005

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O primeiro livro de ficção científica que apareceu na Bulgária foi editado em 1880, o seu título era Volta ao Mundo em 80 Dias e o autor Júlio Verne. Vinte e cinco anos mais tarde, já estava editada a maioria dos livros deste autor, bem como os livros de H. G. Wells, Andre Lory, Mora Yokay, Edward Belamy, Jonathan Swift, Paolo Montegazi e outros escritores dedicados ao género. Pouco mais tarde, editaram-se as obras fantásticas de Jack London e de Edgar Allan Poe.
O primeiro conto da ficção científica búlgara foi escrito em 1899 pelo escritor clássico búlgaro Ivan Vazov e o seu título era O Último Dia do Século XX. Neste conto, descreve-se um passeio do rei da Bulgária pela cidade de Sófia (a capital do país), que no futuro teria chegado a uma "enorme" população de 350 000 habitantes e se teria desenvolvido muitíssimo, com belos edifícios e palácios, ruas pavimentadas e bonitos jardins. As conversas de longa distância, no palácio real, realizar-se-iam por intermédio de um "fonógrafo", e os carros mover-se-iam a vapor. A única coisa que o autor adivinhou foi a presença do rei da Bulgária, dado que em 2001 o partido realista ganhou as eleições e o rei Simeon regressou de Espanha, onde esteve exilado desde 1948 (Simeon é primo de Juan Carlos de Espanha), ocupando o cargo de chefe de Estado.
O primeiro livro de ficção científica do escritor Ilia Iovchev foi editado em 1900, com o título de Uma visão do progresso actual e do futuro, realizada pelos olhos dos descendentes.
A Argus foi a primeira editora não só da Bulgária, mas do mundo inteiro, a dedicar-se apenas à edição de livros de ficção científica e fantasia. Foi fundada em 1922 pelos escritores de FC e fantasia Svetoslav Minkov e Vladimir Polianov, com o objectivo expresso de editar apenas FC&F. A editora foi capaz de editar apenas dois livros antes de fechar portas. Setenta anos mais tarde, em 1992, fundou-se a nova editora Argus, que permanece activa até hoje.
O desenvolvimento da ficção científica e fantasia búlgara pode dividir-se em três períodos: de 1899 a 1939, de 1956 a 1989 e de 1989-90 até aos dias de hoje. Com base nestes três períodos, os escritores de FC&F búlgaros são divididos pelos críticos entre escritores "muito antigos", escritores "antigos" e escritores "jovens".
Do primeiro período, que vai até ao início da Segunda Guerra Mundial, podem destacar-se os escritores Svetoslav Minkov (1 livro) e Vladimir Polianov (1 livro), que desenvolveram um género chamado "fantasia diabólica", os representantes do género ficção científica Georgui Iliev (2 romances) e Emil Koralov (33 romances) e o clássico búlgaro Elin Pelin que escreveu dois romances de fantasia para crianças, além de outros escritores que não obtiveram nenhum relevo. O que é interessante é que os livros de Svetoslav Minkov e de Elin Pelin foram editados muitas vezes até ao ano 2000, e provavelmente serão reeditados no futuro. Parece que para a fantasia e a fantasia diabólica o tempo não tem significado. Actualmente, os livros de FC de Gueorgui Iliev e Emil Koralov parecem bastante ingénuos e ridículos, mas no seu tempo tinham muitos leitores.
O segundo período vai dos anos que se seguem à Segunda Guerra Mundial até 1989, quando caiu o comunismo como sistema social imposto pela força ao povo búlgaro pelas tropas soviéticas, as quais invadiram o território búlgaro em 9 de Setembro de 1944 e, sem qualquer resistência (nesse tempo considerava-se que, devido à língua semelhante e à origem comum, os russos e os búlgaros eram povos irmãos), estabeleceram um repugnante regime estalinista. Em 1948, foi criada na Bulgária a nova "União dos Escritores", cujo presidente tinha de pertencer ao Comité Central do Partido Comunista Búlgaro, e cujos membros deviam ser muito obedientes à ideologia marxista. Aqueles que ficaram de fora da União só podiam sonhar com a edição dos seus livros e os que nela conseguiam entrar tinham muitos privilégios. A maior parte dos livros dos vários géneros que foram editados nesse período não têm hoje nenhuma importância, mas as obras de 10 ou 12 escritores, como Dimitar Dimov, Anton Donchev, Yordan Radichkov, Pavel Vejinov e mais alguns tinham grande qualidade (debruçavam-se preferencialmente sobre temas históricos) e ainda não perderam o seu valor.
Depois da morte de Estaline, em 1953, o regime totalitário da União Soviética tornou-se mais brando e alguns anos mais tarde aconteceu o mesmo na Bulgária. Na União Soviética apareceram então os primeiros livros de "nova" ficção científica, ressuscitada depois de um longo silêncio, que se vendiam nas livrarias russas na Bulgária (naquele tempo todos os búlgaros eram obrigados a conhecer e estudar a língua russa e abundavam livrarias russas em todas as cidades). Devo assinalar que durante um certo período (até 1956) a edição de ficção científica esteve proibida na Bulgária porque o género não era considerado literatura séria e não coincidia com os cânones da ideologia marxista. Mas os escritores russos de ficção científica não estiveram sujeitos a esta proibição, de modo que começaram a escrever livros em que se descreviam as armas e máquinas soviéticas de alta tecnologia, capazes de exterminar totalmente o capitalismo, ou livros em que se descrevia a vitória definitiva do comunismo em Marte ou noutros planetas, ou livros em que a ideologia marxista era dispersa por toda a galáxia como um sistema universal. Mas como por milagre, apareceram neste período os livros de FC dos escritores russos Alexander Beliaev e Ivan Efremov, que para aquele tempo tinham uma qualidade muito elevada e, alguns, ainda não perderam o seu valor hoje. Os restantes escritores russos desse tempo já ninguém recorda porque, do ponto de vista de um contemporâneo, as suas obras parecem bastante estúpidas.
Em 1956 editou-se na Bulgária o primeiro livro de ficção científica búlgara depois da Segunda Guerra Mundial, que rompeu um silêncio no género que durou 18 anos — desde o início de 1939 até ao fim de 1956. O autor foi Bojidar Bijilov, que ao tempo tinha uma posição forte na União dos Escritores (UE). O título do seu livro é A viagem até à Lua num foguetão búlgaro. O conteúdo é bastante repugnante, apresentando uma mescla da pior FC soviética com uma imitação pobre do muito conhecido livro de Júlio Verne, mas acabou por ser o primeiro pássaro a voar no horizonte da ficção científica búlgara depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1958 surgiu o livro de Liuben Dilov (secretário da UE) O homem atómico e o livro de Petar Bobev (membro da UE) A lagartixa dos gelos, os quais tinham uma qualidade satisfatória para o tempo. Liuben Dilov veio a demonstrar ser um escritor de ficção científica muito prolífico, escrevendo 28 romances de ficção científica até 2003. O seu grande mérito foi, através da sua posição de secretário na União dos Escritores, que manteve até aos anos 80, ter conseguido o abrandamento parcial da adesão à ideologia marxista e da censura que dominava em todas as editoras, se bem que não tenha podido eliminá-la por completo. O seu romance O caminho de Ikaron publicou-se em 16 países, incluindo o Japão. Hoje, Dilov é considerado o patriarca da ficção científica búlgara do segundo período. Ainda está vivo, mas tem já 78 anos, está doente e deixou de escrever. Em 1968, o magnífico escritor Pavel Vejinov escreveu o seu romance de FC-fantasia As borboletas azuis, que também se tornou num romance clássico da FC búlgara, e que foi traduzido e editado em muitos países, incluindo a França. Pavel Vejinov escreveu cinco outros livros de FC, mas o seu primeiro livro do género permaneceu o melhor. Antes da sua morte, fizeram-se três filmes de FC baseados na sua obra. Até 1976 foram editados também romances de FC de outros escritores, que no entanto não têm hoje nenhuma importância. Nesse mesmo ano, foram editados os livros de Vesela Liutzkanova (Os cloningos) e Velichka Nastradinova (A minha avó, a bruxa), com uma qualidade bastante boa e que mais tarde foram editados na União Soviética, na Polónia e na Checoslováquia. Estas duas escritoras também tinham as suas posições na UE.
Em 1968, a editora soviética Mir (Mundo) iniciou a edição da série "Fantasia do estrangeiro" que incluía obras de ficção científica de autores de vários países do mundo, mas na sua maioria dos Estados Unidos. Os leitores de ficção científica do tempo procuravam por todos os meios conseguir comprar esses livros, que se vendiam em pequena quantidade. Mas nesses tempos a ideologia comunista não permitia a edição de livros de tipo distópico (que poderia prejudicar a ideologia marxista) ou livros onde se descreviam outros tipos de modelos de futuro ou guerras no espaço, fantasia ou terror. Editava-se preferencialmente FC "dura e científica". Como satélite fiel, a Bulgária seguiu o novo exemplo russo e as editoras búlgaras começaram a editar os livros que correspondiam mais ou menos às suas premissas ideológicas, como os de Isaac Asimov (Eu, Robot), Arthur C. Clarke e Ray Bradbury. O livro Fahrenheit 451 era mostrado como exemplo do que poderia acontecer se se deixasse que o capitalismo chegasse ao futuro. Também se começaram a editar os livros do polaco Stanislaw Lem (Solaris) e dos irmãos Arkadi e Boris Strugatski (Que Difícil é Ser Deus!). Os livros dos irmãos Strugatski eram escritos de um modo muito interessante e os irmãos pareciam já se ter libertado de dogmas ideológicos, ou então ter inventado uma forma de contorná-los.

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